Erva de São João no Autismo (Hypericum perforatum). Seu uso homeopático e na medicina tradicional.
- Dra Geórgia Fonseca
- 14 de jan. de 2017
- 9 min de leitura
O uso comum do Hypericum em homeopatia é rotina no que se refere a ferimentos, lacerações, lesões por esmagamento e dores pós-cirúrgicas. Também tem aplicação excelente para dores neuríticas, principalmente de extremidades. Interessante notar que nas crianças do espectro do autismo a manifestação somática da dor é muitas vezes contida. O paciente muitas vezes parece não sentir dor. Retirando-se a teoria de que esta hipossensibilidade se refere à um aumento do aporte opióide endógeno, pela visão da homeopatia, em se tratando da análise da angustia existencial do indivíduo, podemos dizer que ele não se permite manifestar esta dor. Que este sofrimento deve ser vivido intensamente e internamente. O sofrimento Psórico seria: Punir-se através da dor.
Outra grande relação poderia ser feita com a hipersensibilidade sensorial dos pacientes com autismo, que em estudos recentes foi revelada como hipersensibilidade periférica somática real. A grande ação de Hypericum nos nervos periféricos poderia então atuar no manejo desta hipersensibilidade.
Avaliando alguns sintomas patogenéticos de Allen e Hering encontraremos alguns pontos interessantes como:
Excitação mental
“..ele falou incessantemente durante toda a noite...”
“..ele começou a falar e a cantar ininterruptamente, mas logo em seguida, chora e grita assustado...”
Muito triste, mau humor.
Grande depressão. Inclinado a chorar. Melancolia.
Apreensividade.
Assusta-se facilmente.
Debilidade de memória. Esquecimento.
Comete erros escrevendo. Omite letras.
Ela esquece o que iria dizer.
Idéias eróticas.
Fala incoerentemente durante o sono -Terror noturno.
Grande ansiedade.
Irritado. Inclinado a responder rispidamente, dorme mal, desanimado ao despertar.
No repertório de Kent há 86 sintomas psíquicos. Dentre eles os que nos interessam seriam:
Ansiedade.
Inquietude à noite.
Excitação, excitável.
Hipersensível.
Medo, terror, cair, movimento.
Assustadiço; por bagatelas.
Irritabilidade.
Capacidade intelectual aumentada.
Idéias, grande quantidade de.
Pensamentos sexuais, lascivo.
Ilusões.
Delírio raivoso; durante sono; durante dores.
Confusão mental pela manhã, ao despertar.
Memória débil, fraca.
Erros escrevendo. Omite letras, omite palavras.
Erros falando. Coloca mal as palavras. Soletrando.
Tristeza. Depressão mental.
Indolência. Aversão ao trabalho.
Aversão ao trabalho mental.
Os sintomas particulares de Hypericum perforatum também nos chamam bastante atenção, principalmente os que se referem à hipersensibilidade sensorial que tanto encontramos nos nossos pacientes com autismo:
Hiperacusia.
Hiperosmia.
Náusea e desejo de vomitar.
Diarréia com erupção, com urgência, fezes moles,amarelas e biliosas.
Constipação com violento tenesmo. Hemorróidas sangrantes. Hemorróidas. Dores nos esfíncteres.
Dores ardentes ao urinar.
Grande prurido na pele. Pele áspera como que coberta por pequenos nódulos.
Cérebro excitado.
Como se mãos e pés estivessem adormecidos. Como se os pés estivessem sendo picados por agulhas. ( Pode explicar sintomas como estereotipias dos dedos e andar na ponta dos pés.)
Outras sensações especiais de Hypericum nas experimentações podem nos dar um retrato da grande ansiedade que pode ser vivida por estes pacientes:
Como se a cabeça repentinamente se alongasse; como se estivesse elevado no ar; com angústia por temer que o deixem cair; como se tivesse algo vivo no cérebro; como se o cérebro pudesse ser feito em pedaços; como se a testa fosse tocada por uma mão gelada; como se um verme se movesse na sua garganta ( Refluxo?); como se tivesse uma faixa apertada no abdome; como se as pernas estivessem adormecidas.
Resumindo com uma conclusão do mestre Brunini, o Hypericum representa uma fração da Graça Divina, atenuar os pa

decimentos psíquicos de uma imensidade de pacientes.
Baseado na dinâmica miasmática representada no repertório de Kent- Eizayaga e interpretado segundo o mestre Brunini : Se a Psora é o tributo pago por nossa imperfeição, a dor, quer seja física ou moral, é a reparação pelo ato equivocado cometido. Àquele que se julga em débito com sua própria natureza, o que resta é retratar-se pelo “mal” praticado. A ele não basta “punir-se” através da dor ocasionada por um ferimento sofrido; deve expandi-la, irradiá-la, torná-la insuportável, transformá-la em mil, assim como a planta dos mil furos, dos mil ferimentos. Deve conduzi-la à sede do seu SNC, onde toda a sensibilidade humana é decodificada; e lá, simulando um quadro inflamatório meníngeo, sua mente entra em ebulição”, expurgando toda a sua psora, a sua culpa. É pela ação do ‘Sangue de São João”que uma grande congestão cerebral se instala, levando o indivíduo ao delírio e liberando a sua ansiedade de consciência. Segundo os antigos, o “demônio” não suportava a presença da Herba Solis, a presença da Luz; analogicamente, as “zonas sombrias” do corpo ( menos pigmentadas), quando sujeitas a Hypericum se irritam pela luz solar. Ao arder em delírio pela ação da Herba Solis, é como se o indivíduo se queimasse, trouxesse à tona o que há de sombrio em si. É a vibração de Hypericum agindo como um potencializador, um mensageiro da Luz, tanto para o corpo como para a alma. Ao entrar em contato com os seus ‘demônios interiores” dá vazão à sua angústia existencial, através de dores dilacerantes que podem leva-lo à convulsão e ao choque. Sua defesa sicótica fica representada pela confusão mental, através da qual busca, pelo esquecimento, atenuar os efeitos do trauma físico-emocional sofrido. O relato da patogenesia psíquica de Hypericum lembra alguém que, tendo participado de uma grande batalha por toda uma noite, cai exaurido e sem forças. Pelo princípio da similitude, o elemento que provoca a dor é capaz de balsamizá-la; daí o ‘Bálsamo do Guerreiro” que, ao longo do tempo, vem aliviando sofrimentos não só nos campos de batalha mas também nas oficinas de trabalho da vida cotidiana. Como João Batista – que por amor derramou seu próprio sangue combatendo a mentira e a hipocrisia de sua época - Johannisklaut, a seu modo, trata as feridas físicas e as sombras da alma.
Uso dos princípios Ativos do Hypericum na medicina tradicional:
A Erva de São João tem sido estudada para autismo devido a ação de seu componente Hipericina. Os estudos verificaram que pacientes com autismo que possuem mutação no gene TRPC6 são os mais beneficiados, porém eles correspondem a apenas 1% dos pacientes no espectro. Porém o Hypericum tem sido usado em psiquiatria largamente, há vários anos.A Erva de São João é amplamente conhecida como um tratamento fitoterápico para a depressão. Em alguns países, como a Alemanha, ela é comumente prescrita para depressão leve a moderada, especialmente em crianças e adolescentes. Especificamente, na Alemanha tem uma organização governamental chamada Comissão E que realiza regularmente estudos rigorosos sobre fitoterapia. Propõe-se que o mecanismo de ação de Hiperico é devido à inibição da recaptação de certos neurotransmissores. Os componentes químicos mais bem estudados da planta são hipericina e pseudohipericina. Uma análise de vinte e nove ensaios clínicos com mais de cinco mil pacientes foi realizado pela Cochrane Collaboration. A revisão concluiu que os extratos de erva de São João foram superiores ao placebo em pacientes com depressão maior. Erva de São João teve eficácia semelhante aos antidepressivos padrão. A taxa de efeitos colaterais era a metade da existente nos mais recentes antidepressivos ISRS e um quinto da existente nos antidepressivos tricíclicos mais antigos. Um relatório da Cochrane Review afirma.: A evidência disponível sugere que os extratos de Hypericum testados nos ensaios são superiores ao placebo em pacientes com depressão maior; b) são igualmente eficazes como antidepressivos padrão; e c) têm menos efeitos colaterais do que os antidepressivos padrão. Um dos principais constituintes químicos, hiperforina, pode ser útil para o tratamento do alcoolismo, apesar da dosagem, segurança e eficácia ainda não terem sido estudadas. A hiperforina também tem apresentado propriedades antibacterianas contra bactérias Gram-positivas, embora a dosagem, segurança e eficácia não tenha sido estudada. A fitoterapia também empregou extratos lipofílicos de erva de São João como um remédio tópico para feridas, escoriações, queimaduras e dores musculares. Os efeitos positivos que têm sido observados são geralmente atribuídos a hiperforina devido aos seus possíveis efeitos anti-bacterianos e anti-inflamatórios. Por esta razão hiperforina pode ser útil no tratamento de feridas infectadas e doenças inflamatórias de pele. A hipericina e pseudo demonstraram atividades antivirais e antibacterianas. Acredita-se que estas moléculas se ligam de forma não específica às membranas viral e celular, podendo resultar em foto-oxidação dos agentes patogénicos para os destruir. Uma equipe de investigação da Universidade de Madrid (UCM) publicou um estudo intitulado "Hypericum perforatum. Opção possível contra a doença de Parkinson", o que sugere que a erva de São João tem ingredientes ativos antioxidantes que podem ajudar a reduzir a degeneração neuronal causada pela doença. Evidências recentes sugerem que o tratamento diário com erva de São João pode melhorar os sintomas físicos e comportamentais mais comuns associados à síndrome pré-menstrual. Um estudo demonstrou o efeito do hiperico aliviado deficiências relacionadas com a idade e a memória de longo prazo em ratos. Os efeitos adversos e interações medicamentosas O Hipericum é geralmente bem tolerado, com um perfil de efeitos adversos semelhante ao placebo. Os efeitos adversos mais comuns relatados são sintomas gastrointestinais, tonturas, confusão, cansaço e sedação. Ele também diminui os níveis de estrógenos, como o estradiol, acelerando o seu metabolismo, e não deve ser tomado por mulheres em uso de pílulas anticoncepcionais. Raramente o hipericum pode causar fotossensibilidade. Em relação a isso, estudos recentes concluíram que o extrato reage com a luz, tanto visível e ultravioleta, para produzir radicais livres, moléculas que pode danificar as células dos olhos. Outro estudo constatou que em baixas concentrações, erva de São João inibe a produção de radicais livres em ambos os tecidos celular e vascular, revelando propriedades antioxidantes do composto. O mesmo estudo descobriu atividade pró-oxidante na maior concentração testada. A Erva de São João é associado com o agravamento da psicose em pessoas que têm esquizofrenia.
Interações medicamentosas:
Exemplos de drogas que causam interações clinicamente significativas com a Erva de São João Drogas: Inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídeos :anti-retrovirais, inibidores da protease Benzodiazepínicos: Alprazolam, midazolam A contracepção hormonal combinada: contraceptivos orais Inibidores da calcineurina imunossupressores: a ciclosporina, tacrolimus Antiarrítmicos :amiodarona, flecainida, mexiletine Beta-bloqueadores: metoprolol, carvedilol Bloqueadores do canal de cálcio: verapamil, diltiazem, anlodipina As estatinas (colesterol reduzindo-medicação) Lovastatina, sinvastatina, atorvastatina Outros: Digoxina, metadona, omeprazol, fenobarbital, teofilina, varfarina, levodopa, buprenorfina, irinotecano. Interações farmacodinâmicas Em combinação com outros medicamentos que possam elevar 5-HT (serotonina), os níveis no sistema nervoso central (SNC),a erva de São João pode contribuir para a síndrome serotonininérgica, que pode causar risco de vida. Por isso não pode ser usada com antidepressivos. Drogas que podem contribuir para a síndrome da serotonina com erva de São João: Os antidepressivos inibidores da MAO, antidepressivos tricíclicos, ISRS, IRSN, mirtazapina Os opióides Tramadol, petidina (meperidina), Levorfanol Os estimulantes do Sistema Nervoso Central como fentermina, dietilpropiona, anfetaminas, sibutramina, cocaína Os agonistas 5-Ht 1 Triptanos As drogas psicodélicas metilenodioximetanfetamina (MDMA), MDA, 6-APB Outros: selegilina, triptofano, buspirona, lítio, linezolida, 5-HTP, dextrometorfano
Mecanismo de Ação e o Envenenamento pala Erva de São João- Hypericum perforatum - Saint Johns Wort: A Erva de São João ( SJW), à semelhança de outros produtos à base de plantas, contém toda uma série de diferentes constituintes químicos que possam ser pertinentes aos seus efeitos terapêuticos. A Hiperforina e a dhiperforina, dois constituintes da SJW, são agonista do receptor TRPC6, consequentemente, eles induzem a inibição não competitiva da recaptação de monoaminas (especificamente, dopamina, norepinefrina e serotonina), GABA, glutamato. Ela inibe a recaptação de neurotransmissores, aumentando a entrada de sódio nas células. Além disso, SJW é conhecida por regular negativamente o receptor adrenérgico β1 e regular positivamente 5-HT1A e 5-HT2A, receptores pós-sinápticos, os quais são um tipo de receptor de serotonina. Outros compostos podem também desempenhar um papel na ação antidepressiva da SJW. Tais compostos incluem: procianidinas oligoméricas, flavonóides quercetina , hipericina e pseudo hipericina. Nos seres humanos, a hiperforina, seu ingrediente ativo, é um inibidor da recaptação de monoaminas. Ela é também um composto anti-inflamatório potente, com efeito anti-angiogénico, antibiótica, e com propriedades neurotróficas. A Hiperforina também tem um efeito antagonista sobre os receptores NMDA, um tipo de receptor de glutamato. De acordo com um estudo recente, o conteúdo hiperforina correlaciona-se com efeito terapêutico na depressão leve a moderada.
Envenenamento por Erva de São João ( Saint Johns Wort) – Hypericum perforatum
Em grandes doses, erva de São João é venenosa para o gado pastar (bovinos, ovinos, caprinos, equídeos). Os sinais comportamentais de intoxicação são inquietação geral e irritação da pele. Inquietação, esfregar a cabeça e fraqueza ocasional dos membros posteriores com respiração ofegante, confusão e depressão. Mania e hiperatividade também podem surgir, inclusive com o animal correndo em círculos até ao seu esgotamento. Hipersensibilidade à água tem sido observada e também convulsões. Grave irritação da pele é fisicamente aparente, com vermelhidão das áreas não pigmentadas e desprotegidas. Isto leva o animal a coçar e esfregar, seguido de mais inflamação, exsudação e formação de crosta. As lesões e inflamações que ocorrem lembram as condições observadas na febre aftosa. Cavalos podem mostrar sinais de anorexia, depressão (com um estado de coma), pupilas dilatadas, e conjuntiva avermelhada.
Aumento da respiração e da frequência cardíaca é tipicamente observado enquanto um dos primeiros sinais de envenenamento à Erva de São João é um aumento anormal da temperatura corporal. Os animais afetados vão perder peso, ou deixar de ganhar peso; os animais jovens são mais afetados do que os animais de idade. Em casos graves, pode ocorrer a morte, como resultado direto de fome, ou por causa de doença secundária, septicemia ou de lesões de pele infectadas.
Concluindo, pelos estudos do mecanismo bioquímico, vemos que a Erva age claramente em neurotransmissores. E naqueles sistemas diretamente ligados às alterações funcionais do cérebro dos autistas.Interessate em primeirolugar seria seu efeito anti-inflamatório. Segundo: O efeito neurotrófico( O que quer dizer que faz crescer neurônios). Enquanto erva de São João mostra alguma promessa no tratamento de crianças com autismo, é aconselhável que ele só é feito com supervisão médica. Quanto ao seu uso homeopático sugiro aos colegas homeopatas atenção para a maravilhosa patogenesia deste medicamento. Um que deve estar incluso no nosso quadro de medicações para afecções mentais.
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