Muito já lhes disse sobre o poder da homeopatia em tratar o indivíduo na integralidade. Ao considerar a doença ou o estado mórbido do paciente como um desequilíbrio global em que se deve analisar o indivíduo como um todo e não tratar apenas as partes distintas, a homeopatia busca trazer o paciente ao equilíbrio físico e mental. A ação energética do medicamento, ministrado em doses pequenas e repetidas, promoverá melhora suave, progressiva e duradoura na sintomatologia das doenças com o estímulo à imunidade individual.
O tratamento homeopático não funciona como uma simples fórmula pronta. Muitos passos serão necessários para que este equilíbrio chegue. Em primeiro lugar o médico homeopata deve ser um estudioso aplicado das matéria médicas, repertórios e patogenesias. Dentre os mais de 2000 medicamentos homeopáticos ele deve saber buscar a identidade e a semelhança. Como disse, não adianta fórmulas de bolo se não se sabe entender o repertório. Outro problema é que o profissional deve saber bem fazer diagnóstico clínico. O repertório não é um simples copia e cola. Se o profissional não sabe que na rubrica DELÍRIO há sintomas de doenças hepáticas, renais, psiquiátricas, infecciosas, neurológicas e muitas outras colocará o paciente em risco com certeza. Insisto que o diagnóstico clínico deve vir em primeiro lugar. Em resumo, o homeopata deve ser um bom médico.Já vi sintomas de agravamento de doenças serem interpretados como "eliminação". Isso me assusta.
Outro ponto que quero ressaltar é que, com relação ao autismo, vejo pais querendo iniciar o tratamento nas crianças apenas como busca de uma nova tábua de salvação, sem ao menos tentar buscar informações do que é a homeopatia, em que princípios ela se baseia, o que esperar do tratamento.
A primeira dificuldade que vejo é a da administração dos medicamentos. O princípio das doses "pequenas e repetidas continuamente" não é seguido. Os pais pulam doses, não administram, esquecem e depois acumulam doses, param o tratamento sem entender que a melhora não será imediata mas suave e progressiva. A falta de disciplina e de paciência é então o primeiro obstáculo.
Depois o armazenamento. A falta de compreensão que o medicamento é essencialmente energético faz com que se guarde medicamentos na geladeira, em cima de aparelhos eletrônicos, junto com substâncias aromáticas, ao sol ou perto de wifi e celulares. O resultado será a inativação dos medicamentos.
O terceiro ponto é a escolha. Sim! Porque ao escolher o tratamento homeopático a pessoa está escolhendo um modo de tratamento holístico e natural e deve fazer outras mudanças em sua vida nesse sentido, como a do ambiente, do sedentarismo e da alimentação por exemplo.
Dito isso, vou ao ponto dos resultados surpreendentes que podemos angariar com o uso dos medicamentos homeopáticos corretamente aplicados, e aí chego no principal assunto que desejo abordar aqui. Muitos sintomas comportamentais de pacientes com autismo estão claramente definidos nos repertórios. Posso dar exemplos como:
- Golpeia a si mesmo
- Golpeia a si, cabeça
- Bate sua cabeça na perede
- Bate em sua face
- Contrário
- Intolerante à contradição
- Indisposto a falar
- Aversão a que lhe falem
- Linguagem: repete a mesma coisa
- Linguagem: fala só sobre um assunto
- Aversão à conversação
- Automatismos
-Morder: desejo
-Morde os circundantes
-Morde as mãos
- Mutila seu corpo
-Mania sexual
-Obstinado: à tudo que foi proposto
...
Esses são apenas alguns exemplos. Há inúmeras rubricas repertoriais com sintomas clássicos e peculiares do comportamento das crianças com autismo. Um bom estudo poderá levar o médico homeopata a encontrar a similitude na totalidade de sintomas de seu paciente.
(Quanto aos transtornos da linguagem, encontramos também inúmeras rubricas que podem nos auxiliar no tratamento. Nos repertórios homeopáticos encontramos medicamentos listados para os seguintes sintomas: Fala ( Só fala sobre um assunto; fala com pessoas ausentes; fala consigo mesmo) ; Falar ( ansioso para falar em público; inapto para falar em publico; Indisposto a falar- Desejo de estar silencioso); Lento para aprender a falar; Agrava quando tenta falar; Agrava quando lhe falam; Linguagem ( concisa, confusa, hesitante, inarticulada, incoerente, ininteligível, lenta, monossilábica, sem sentido, não termina frases, troca letras, troca palavras) e alguns outros mais... É claro que à esses sintomas de linguagem deve-se acrescentar na repertorização os sintomas mentais e gerais
Mas friso bem! : Não há um medicamento específico para cada sintoma. O repertório nos traz vários. Pelo estudo cuidadoso do conjunto de sintomas o medicamento será escolhido pela similitude.
Porém tenho visto um erro muito comum. O médico deve entender que o sofrimento da pessoa com autismo está represado num sistema com os canais de liberação ( os emunctórios) totalmente bloqueados. Que o organismo do paciente com autismo está totalmente em desequilíbrio. Não só o mental, mas também o trato gastrointestinal, o sistema nervoso central e periférico, o sistema imune, a capacidade de detoxificação, o sistema mitocondrial. Portanto tratar sem dar atenção à manter os canais de eliminação abertos pode gerar piora nos pacientes. Será como uma barragem que se rompe!
E a outra observação que faço é quanto aos " remédios de fundo". A personalidade do autista. A verdadeira personalidade está escondida em baixo de todas as camadas de defesa que foram montadas ao longo do tempo. Deste modo eu sempre estou atenta à mudar esse medicamento conforme essa personalidade se revela. Aliás este ponto renderia muitas estórias. Pois os pais às vezes se surpreendem com a personalidade revelada da criança. Mas o que desejo é realmente que ela possa manifestar o que ela realmente é, e o que ela deseja.
Na minha pesquisa em trabalhos com homeopatia para autismo na Federação Brasileira de Homeopatia ( Publicado com testagens para autismo como CARS e PEP-R ), tenho visto melhora da imunidade, melhora da saúde física, melhora das funções de energia, apetite, sono e humor, ganhos graduais no desenvolvimento cognitivo e na idade mental comparada à idade cronológica; na área da linguagem maior prontidão para o aprendizado, pela melhora da compreensão e da capacidade de imitação. Nas área da coordenação motora temos tido ganhos expressivos, principalmente pela nossa experiência anterior com os pacientes de reabilitação. Nos pacientes maiores vejo melhora da integração com a família e a sociedade e maior controle da agressividade.
Aliás essa é o meu objetivo considerado como resultado ideal ao aplicar o tratamento homeopático nos meus pacientes: A integração sócio-familiar.
Um grande abraço à todos
Dra Geórgia Fonseca