No início do ano de 2017, um estudo avaliou “a incidência de "comorbidades e sintomas comportamentais e neuropsiquiátricos" em relação ao autismo no contexto do envelhecimento. Alguns detalhes importantes foram observados. No mínimo, os distúrbios gastrointestinais (68,9%) e convulsões (23%) eram comuns, e 25,7% da amostra apresentavam um índice de massa corpórea (IMC)> 30 quando se analisava a sua coorte de 74 adultos adultos diagnosticados com autismo” segundo critérios do DSM-5. Outro ponto interessante é que esse mesmo trabalho observou a diminuição significativa de alguns sintomas psiquiátricos e comportamentais ao longo de 25 anos. Então não há dúvida de que as abordagens atuais para o manejo do autismo, da qualidade de vida e da saúde destes pacientes têm deixado de lado pontos importantíssimos. No nosso meio, o olhar para os distúrbios convulsivos talvez venha sendo o único digno de nota. O surgimento de quadros convulsivos na adolescência e na idade adulta é impactante para a família e os médicos, que correm ao tratamento com as medicações disponíveis. No entanto a incidência de distúrbios gastrointestinais, que é maior, vem sendo ignorada. Do mesmo modo, o aumento do índice de massa corporal. Todos sabem que a obesidade e o sobrepeso estão ligados a um aumento no risco de doença cardiovascular e outros problemas da saúde. Além disso estudos atuais mostram que até mesmo entre jovens adultos com peso normal, o simples aumento no índice de massa corporal (IMC) já representa mais riscos para a saúde. Os problemas gastrointestinais no autismo e podem estar relacionados a comportamentos problemáticos,como distúrbios sensoriais, alterações do sono, ansiedade e irritabilidade. Esses distúrbios já foram bem documentados (Heijtz et al., 2011; Mazurek et al., 2012; Schurman et al., 2012; Chandler et al., 2013). A forte correlação dos sintomas gastrointestinais com a gravidade do autismo também (Adamset al., 2011, Wang Et al., 2011; Gorrindo et al., 2012), de tal modo que um consenso da Academia de Pediatria recomenda, hoje em dia, que os prestadores de cuidados de saúde devem estar alertas às manifestações dos distúrbios gastrointestinais no autismo. Neste mesmo consenso chamam a atenção de que esses distúrbios do TGI podem ser atípicos, manifestando-se de forma evidente apenas por mudanças de comportamento, o que torna mais desafiadora sua elucidação diagnóstica. Sendo assim, se torna urgente o aumento do reconhecimento de comorbidades gastrointestinais entre os indivíduos adultos com autismo, incluindo gastrites, esofagites, outros distúrbios inflamatórios intestinais, aumento da permeabilidade intestinal, diarreia, constipação, refluxo gastroesofágico, deficiência de enzimas digestivas e disbiose. (Russo, A.J., Krigsman A, Jepson B, and Wakefiel 2009:1;Horvath et al., 1999; Wasilewska et al., 2009; De Magistris et al., 2010; Kushak et al., 2011; Williams et al., 2011; Persico e Napolioni, 2012). O que o estudo de Wise e cols nos alerta é que a presença destas comorbidades no autista jovem e adulto pode ser tão incapacitante como o autismo em si, e deste modo, as estratégias de diagnóstico e os meios para gerenciar e amenizar estas dificuldades não devem ser negligenciados.
Wise EA. Et ai. Envelhecimento e Distúrbio do Espectro do Autismo: Estudo Naturalista e Longitudinal das Comorbidades e Sintomas Comportamentais e Neuropsiquiátricos em Adultos com TEA. J Autism Dev Disord. 2017. Mar 16.