Tsunami é uma imensa onda com grande volume de água e energia envolvidos e que pode devastar uma região costeira. Quando olho para os gráficos de aumento de prevalência dos casos de autismo, vejo exatamente isso, uma assustadora tsunami. E fico imaginando o que esta imensa onda está levando junto com ela. Dentro de seu deslocamento ela vai carregando muitas vidas, destruindo sonhos, desamparando famílias inteiras. Mas o alerta ainda não soa alto o bastante aos ouvidos da sociedade, dos médicos e governantes, e creio que já é hora de termos uma conversa séria sobre os números apresentados pelos centros de pesquisa e estatística.
Os dados estatísticos do CDC ( Center for Disease Control and Prevention - Centro para Controle e Prevenção de Doenças) do governo americano, apontaram na sua divulgação de Abril deste ano de 2018 uma prevalência de 1:59 ( Uma criança no Espectro do Autismo para cada 59 crianças sem o transtorno) com base em levantamento de 2014. Esses dados podem ser encontrados no site para que qualquer um os veja. Colocarei o link ao final.
Se estes números o impactaram, espere... Porque uma nova estimativa baseada na Pesquisa Nacional de Saúde Infantil (NCHS) americano, revelou números mais assustadores no mês de Novembro de 2018. Que a prevalência seria de 1 caso em cada 40 crianças! Isso mesmo, 1:40. Duas equipes de pesquisa independentes analisaram os dados de 50.000 crianças entre 3 e 17 anos. Um estudo foi publicado na JAMA Pediatrics, e o outro saiu na também conceituada Pediatrics. As estimativas de prevalência das análises variam, mas apenas ligeiramente, devido a diferenças nos métodos estatísticos utilizados, mas a conclusão foi que cerca de 1 em 40 crianças nos Estados Unidos estão no Espectro do Autismo, e que cerca de 30% dessas crianças não estavam sendo tratadas para a condição naquele momento. Em outras palavras, a condição foi relatada em 2,5% das crianças, representando cerca de 1,5 milhão de crianças americanas entre 3 e 17 anos. Não temos estatísticas em nosso país, mas se extrapolássemos, considerando que o Brasil possui 61,4 milhões de crianças entre 0 e 18 anos, chegaríamos também perto da cifra de um milhão e meio de crianças afetadas.
Os três Macacos Sábios da porta do Templo de Toshogu no Japão representam: “Não veja o mal, não fale o mal, não escute o mal”. Mas agora, com relação ao número crescente relatado nas pesquisas de prevalência dos casos de autismo, tenho visto a caricatura do: Prefiro não ver, prefiro não comentar, prefiro não escutar. Seria o momento propício, num ano em que 2 institutos de pesquisa lançam o alerta do aumento do número de casos ( O CDC e o NCHS), além de muitas pesquisas independentes em países que apresentaram também estatísticas de aumento exorbitante, que se deixasse de lado a repetição da frase que “ O aumento no número de casos de autismo de deve à melhor conscientização e à melhor acurácia diagnóstica.”
É hora de começarmos a conversar seriamente sobre esses números apresentados e o que pode estar por trás deles. E sim, isso significa mencionar as palavras "aumento real" e se mobilizar a sociedade, os governos, as pesquisas, visando o ponto principal de toda essa estória: Depois que a tsunami passa há milhares de famílias que necessitam de apoio. Depois que a imensa e caudalosa onda se abate, recursos, pessoal, auxílio humanitário, dinheiro precisam ser colocados em campo para garantir que o crescente número de pessoas diagnosticadas receba o cuidado e o apoio de que precisam ao longo da vida.
Quanto às causas deste aumento sinistro, eu tenho minha opinião. E ela é compartilhada por vários colegas em Congressos que atendo lá fora atualmente. O fato é que mais de 1 milhão de toneladas de produtos químicos são lançados no ambiente anualmente. E entre 2863 químicos tóxicos, só 21,4% têm algum dado para neurotoxicidade, 78,2% não tiveram nenhuma pesquisa para neurotoxicidade e só 0,4 % foram corretamente avaliados! Estes dados podem ser vistos no site do preventingharm.
Em avaliações laboratoriais de cordão umbilical, 287 produtos químicos já foram detectados. Destes,180 causam câncer em seres humanos e animais, 217 são tóxicos para o cérebro e o sistema nervoso, 208 causam anomalias congênitas ou desenvolvimento anormal em testes com animais e aproximadamente 200 já foram banidos do mercado há anos! Os dados podem ser encontrados no site do bodyburden.
Então meus amigos, o correto a se dizer é que quando essa revolução química começou não tínhamos a mínima idéia do impacto dela sobre nossos corpos. E se a indústria quer repetir que isso não nos mata, antes de nos matar, esses produtos desregulam nosso metabolismo, atuam como nossos hormônios , enzimas ou neurotransmissores, bloqueiam receptores, confundem a sinalização celular, danificam as membranas celulares, atuam como agentes pró-inflamatórios, alteram nosso microbioma e danificam nossas mitocôndrias.
Conhecem a estória dos Canários da Mina? Os mineiros levam gaiolas com seus canarinhos para as profundezas. Mas eles não estão ali só para a companhia e distração com seu canto maravilhoso. Se a avezinha parar de cantar ou ficar entristecida e amuada os homens sabem que o ambiente está contaminado e saem rapidamente daquele local. Então nossos filhos são isto: Eles são OS CANÁRIOS DA MINA. E a possibilidade é que haja um subgupo genético populacional que não suporta toda essa carga de “evolução química moderna.”
Teoria? Sim. Vou ficando com ela. Porque temos uma prova observacional de que quando limpamos o ambiente, a dieta, e “voltamos às origens” com as crianças elas melhoram em muitos aspectos. Enquanto isso os números da prevalência em autismo, doenças alérgicas, TDAH, câncer e doenças degenerativas vai aumentando. A Perspectiva do MindHealth é que em 2033 haja 1 criança com Autismo em cada 4. Aí talvez possamos fazer a nossa revolução. Porque Autismo será a regra e não a exceção.
Paz e luz a todos.
Dra Geórgia Fonseca
1] Blumberg SJ. et al. Changes in Prevalence of Parent-reported Autism Spectrum Disorder in School-aged U.S. Children: 2007 to 2011–2012. National Health Statistics Report. 2013; 65: March 20.
[2] Kogan MD. et al. The Prevalence of Parent-Reported Autism Spectrum Disorder Among US Children. Pediatrics. 2018. Nov 26.
[3] AAP News. Study: 1 in 40 children diagnosed with autism. 2018. Nov 26.
[4] Pediatrics. December 2018, VOLUME 142 / ISSUE 6- The Prevalence of Parent-Reported Autism Spectrum Disorder Among US Children - Michael D. Kogan, Catherine J. Vladutiu, Laura A. Schieve, Reem M. Ghandour, Stephen J. Blumberg, Benjamin Zablotsky, James M. Perrin, Paul Shattuck, Karen A. Kuhlthau, Robin L. Harwood, Michael C. Lu
[5] https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html
[6] www.preventingharm.org
[7] www.bodyburden.org